Governo e banco terão que fazer escolhas no comércio exterior
O vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Geraldo Alckmin, anunciou ontem que o governo lançará um programa de apoio à exportação via Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Alckmin não deu detalhes, mas o banco terá que fazer escolhas.
O BNDES trabalha, historicamente, com duas ferramentas de apoio à exportação. Uma é o pré-embarque, que financia a produção do bem a ser exportado. Nesse mecanismo, o exportador tem compromisso de embarcar o produto em até dois anos. A outra modalidade é o pós-embarque, que financia o importador e envolve apoio a bens e serviços.
Desde 2016, no governo Temer, o banco vem priorizando o pré-embarque e o pós-embarque de bens. O maior cliente é a Embraer. A cada aeronave exportada financiada pelo BNDES a fabricante brasileira recebe o dinheiro do banco e quem fica como devedor é o importador. São normalmente companhias nos Estados Unidos e na Europa, cujo risco de crédito é menor.
A linha de pós-embarque para serviços, em especial os de engenharia, foi descontinuada na esteira das investigações que recaíram sobre as empreiteiras na Lava-Jato.
O apoio à exportação de serviços de engenharia foi suspenso em maio de 2016. Na ocasião, os desembolsos do BNDES para 25 projetos da área contratados, os quais somavam US$ 7 bilhões, foram interrompidos. A suspensão foi motivada por avaliação de risco de crédito e não por irregularidades.
A partir dali não houve mais apoio oficial à exportação de serviços de engenharia via BNDES. Nesse tipo de operação faz sentido vender um “pacote” em que o exportador financia bens e serviços e muitos países, inclusive desenvolvidos, seguem essa prática.
Mas no Brasil, depois do que aconteceu com as empreiteiras, retomar esse tipo de apoio pode ser complexo. Exigirá diálogo e alinhamento com órgãos de controle como o Tribunal de Contas da União (TCU). E falar em exportação de serviços não envolve somente a engenharia de construção civil. Pode incluir, por exemplo, engenharia de serviços aeronáuticos.
Especialistas dizem que seria importante o governo pensar em um novo sistema de apoio público às exportações. No governo Bolsonaro, houve um debate sobre o tema envolvendo os ministérios da Economia, Relações Exteriores e Defesa. Embora tenham sido preparados relatórios técnicos, o tema não evoluiu.
Se o banco optar por dar crédito mais barato para a exportação, terá que compensar a medida em outros setores, que terão taxas maiores, na avaliação de especialistas. A não ser que o BNDES vá implementar uma política geral de subsídios, o que não parece ser o caso pelas primeiras manifestações do futuro presidente do banco, Aloizio Mercadante, que vem dizendo que não há mais espaço para esse tipo de prática. O que pode ocorrer são incentivos a setores específicos como economia verde e energia renovável.
No governo Bolsonaro, o BNDES teve uma gestão mais alinhada ao mercado e menos intervencionista na economia. Na exportação do setor aeronáutico, por exemplo, usou o balanço do próprio banco e seguradoras privadas para apoiar as vendas da Embraer. Foi uma forma de não ficar dependente do seguro público de exportação.
Isso é mais fácil de fazer quando se exporta aviões para EUA ou Europa, mas há gargalos a serem enfrentados se o país quiser exportar mais manufaturados para países da América Latina e África, onde o risco de crédito é maior. Nesses mercados pode haver mais espaço para atuação de apoio governamental, mas com critérios técnicos e prudenciais. Também há campo, na visão de especialistas, para apoio à exportação de produtos de defesa.
Alckmin disse que o BNDES pode buscar recursos no exterior, a custo menor, e ajudar a financiar a exportação. No fim de 2022, o banco reduziu as taxas do pré-embarque via queda dos “spreads”, sem subsídios. Diferente do período do Programa de Sustentação do Investimento (PSI), nas gestões petistas anteriores, quando houve subsídios explícitos nos financiamentos do BNDES. Agora será preciso esperar por mais detalhes.
Comércio entre Brasil e Estados Unidos alcança US$ 88,7 bilhões e bate recorde em 2022
As trocas comerciais entre o Brasil e os Estados Unidos em 2022 atingiram o patamar histórico de US$ 88,7 bilhões. Análise inédita do Monitor de Comércio Brasil-EUA da Amcham indica que o valor superou em US$ 18,2 bilhões (25,8%) o recorde anterior estabelecido em 2021.
O relatório aponta a ocorrência de valores recordes nas exportações e nas importações brasileiras em relação aos Estados Unidos, com crescimento em grande parte dos produtos mais importantes da pauta.
“Os resultados sem precedentes em todos os principais indicadores do comércio bilateral revelam o momento de forte dinamismo das relações econômicas entre os dois países, bem como o aumento da relevância dos Estados Unidos para o comércio exterior brasileiro”, afirma Abrão Neto, novo CEO da Amcham Brasil, entidade que reúne cerca de 4.000 empresas.
O Monitor mostra que o comércio bilateral teve desempenho acima da média do comércio exterior brasileiro. O crescimento das exportações do Brasil para o mundo foi de 19,3% enquanto para os Estados Unidos foi de 20,2%. Já o aumento das importações totais brasileiras foi de 24,3% enquanto o das compras vindas dos Estados Unidos foi de 30,3%. Com isso, a participação norte-americana na corrente do Brasil subiu para 14,6%, atingindo o nível mais elevado desde o início da pandemia.
“Para 2023, projetamos uma certa estabilidade nos fluxos bilaterais, com valores próximos aos recordes do ano passado. Há oportunidades importantes para ambos os países, como na economia verde e cadeias de suprimentos. No entanto, será essencial acompanhar a evolução do cenário econômico e geopolítico mundial, que segue volúvel e poderá mudar essas expectativas”, complementa Abrão Neto.
Em 2022, as importações brasileiras de origem norte-americana alcançaram o recorde de US$51,3 bilhões, incremento de 30,3% sobre o ano anterior. O aumento médio dos preços de 35,6% explica em grande parte esse crescimento, sobretudo para fertilizantes, combustíveis e carvão.
Por sua vez, as exportações do Brasil para os Estados Unidos saltaram 20,2% em relação a 2021, atingindo o valor inédito de US$ 37,4 bilhões, puxado tanto pelo aumento de preços como pelo crescimento do volume das exportações, que ocorreu em 7 dos 10 principais itens embarcados para os Estados Unidos.
Apesar do valor histórico da corrente bilateral, o Brasil acumulou um saldo negativo também sem precedentes de US$ 13,9 bilhões, quase 70% maior que em 2021.
Exportações brasileiras superam importações em quase US$ 62 bilhões em 2022
A expectativa para este ano, no entanto, é de redução do superávit no país, segundo a FGV
O valor total exportado pelo Brasil no último ano cresceu 19,1%, enquanto o valor importado foi 24,3% maior do que o registrado em 2021. Ainda assim, a balança comercial do país encerrou o ano superavitária em US$ 61,8 bilhões, em patamar levemente (0,6%) superior aos US$ 61,4 bilhões de 2021. A expectativa para este ano, no entanto, é de redução do superávit, a menos que uma recuperação da demanda na China puxe as exportações da indústria extrativista, especialmente do minério de ferro.
Os dados foram divulgados nesta segunda-feira (16) pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV/Ibre), no Indicador de Comércio Externo (Icomex).
Segundo a instituição, o saldo da balança comercial brasileira nos meses de novembro e dezembro surpreendeu com a melhora das vendas para a China, com destaque para as exportações agropecuárias. A queda de oferta ajudou a sustentar os resultados do setor, com a elevação dos preços. O setor contribuiu positivamente para a balança comercial, com o saldo passando de US$ 46,5 bilhões para US$ 65,8 bilhões.
Já o superávit da indústria extrativa caiu de US$ 63 bilhões em 2021 para US$ 45,5 bilhões em 2022, e o setor foi responsável por 22,8% das exportações do país.
E a indústria de transformação ampliou o déficit de US$ 45,3 bilhões para US$ 48,5 bilhões, respondendo por 55,7% das exportações brasileiras.
“As restrições da oferta agrícola associadas à guerra na Ucrânia e questões climáticas elevaram os preços agrícolas, pois o aumento no volume exportado foi 2,6% menor do que o da indústria de transformação. Na extrativa, preços e volume das exportações recuaram com o desempenho do minério de ferro desfavorável. O déficit na indústria de transformação é recorrente na balança comercial do Brasil desde 2009”, informou a FGV/Ibre.
Por setor, a agropecuária teve alta de 34% nos preços e o volume cresceu 2,6%. Na indústria de transformação, os preços subiram 15,7% e o volume, 8%. Na indústria extrativa, a queda registrada foi de 3,6% no preço e de 0,4% no volume.
A soja permanece como o principal produto exportado pelo Brasil, seguida do petróleo bruto e do minério de ferro, nesta ordem, apesar das vendas do grão terem recuado em 35,3% com queda no preço e no volume.
Cenário mundial
Para 2023, o instituto projeta um menor crescimento da economia mundial, e taxa de expansão do Brasil abaixo de 1%, com redução tanto nas exportações como nas importações.
Globalmente, o cenário deve ser impactado positivamente pelo relaxamento da política “covid zero” na China, que projeta crescimento de 5% em 2023. Na União Europeia, a crise energética pode levar a um menor crescimento.
“O preço do petróleo irá continuar sendo afetado pelas questões geopolíticas e a recuperação das exportações da [indústria] extrativa depende também da recuperação das vendas de minério de ferro para a China. No caso das manufaturas, a crise da Argentina não favorece o aumento das exportações de maior valor adicionado do setor automotivo. Numa primeira leitura, o saldo comercial de 2023 deverá ser menor que o de 2022”, destacou a FGV/Ibre.
Resultados de 2022
A principal contribuição para o aumento dos volumes movimentados pela balança comercial brasileira foi a variação de preços, com aumento de 13,7% para as exportações e de 21% nas importações na comparação de 2022 em relação a 2021. Em volume, a exportação cresceu 4,4%, e a importação subiu 2,7%.
A participação das commodities nas exportações se manteve no ano, com 68% do valor total, mas aumento de 13,9% dos preços e de 4,4% do volume. As não commodities variaram 13,5% em valores e 4,7% no volume.
Nas importações, as commodities passaram de 8,5% para 11,7% na participação do valor, com o crescimento dos preços de 47,9% entre 2021 e 2022. Em volume, o aumento foi de 15,3%. Para as não commodities, as variações foram de 18,3% nos preços e 1,4% no volume.
Segundo o instituto, o aumento de preços das importações de commodities foi o maior registrado na série histórica, iniciada em 2008.
“A guerra na Ucrânia, os efeitos climáticos nas lavouras e os gargalos herdados e ainda não totalmente superados da covid 19 explicam o aumento nos preços das importações, o que impactou a inflação mundial e do Brasil”, explicou a FGV/Ibre.
Mercados
Com relação a mercados com os quais o Brasil mantém relações comerciais, o superávit com a China teve queda de US$ 11,3 bilhões na comparação com o ano anterior. O déficit com os Estados Unidos aumentou em US$ 5,7 bilhões. Com isso, esses dois países contribuíram para uma queda de US$ 17 bilhões no saldo comercial de um ano passa o outro.
Houve aumento de volume exportado para todos os mercados, exceto a China, que anotou queda de 2,8%, afetada pela diminuição no minério de ferro. Já a carne bovina teve aumento de 81% nas exportações para a China.
Com relação à Argentina, o agravamento da crise no país e as restrições cambiais levaram a uma redução de 22,1%. Já para a União Europeia, houve crescimento das exportações de 15,8% na comparação anual.
Em volume de importações, a China cresceu 12,6%, e a União Europeia, 3,8%. Quanto a preços de importações, os Estados Unidos avançaram 33,1%, União Europeia, 19,6%, Argentina, 16,9% e China teve alta de 13,6%.
Com agências de notícias (Valor e IPESI)