Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico do Estado de Pernambuco

Cenário de menor pressão inflacionária acumulada não abre espaço para corte de Selic, diz FGV Ibre

Impulsionada por acelerações de preços em atacado e varejo, a segunda prévia do Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M) acelerou de 0,04% para 0,11% de fevereiro para março, informou a Fundação Getulio Vargas (FGV) nesta segunda-feira.

No entanto, mesmo com aceleração, a taxa da segunda prévia foi tão baixa, e diferente da observada em igual período de 2022 (0,90%), que derrubou a inflação acumulada do indicador. Em 12 meses, o IGP-M acumula alta de apenas 0,23% nas segundas prévias, o menor resultado desde março de 2018 (0,16%), informou André Braz, economista da fundação responsável pelo indicador.

No entanto, ele não concorda que esse cenário de menor pressão inflacionária acumulada, delineado pelo indicador, poderia abrir espaço para corte na taxa básica de juros (Selic), cujo patamar para próximos três meses será definido essa semana pelo Comitê de Política Monetária (Copom).

Braz frisa não acreditar em baixa da Selic na reunião do Copom desta semana. Para ele, ainda há muitas incertezas sobre outros fatores que também são levados em conta, além de inflação, em condução de política monetária, como cenário de juros internacional, e novo arcabouço fiscal brasileiro.

Além disso, mesmo com IGP-M menor em 12 meses, ainda há persistência inflacionária no varejo, em serviços e em alguns preços monitorados. “Eu acredito mais em uma manutenção [da taxa básica de juros atual de 13,75% ao ano] essa semana”, disse.

Ao detalhar a evolução da segunda prévia do IGP-M, o especialista comentou que essa foi puxada para cima devido ao comportamento do Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA), de queda de 0,08% para alta de 0,01% de fevereiro para março; e aceleração no Índice de Preços ao Consumidor (IPC), de 0,40% para 0,50% no mesmo período. Esses dois subindicadores, que representam atacado e varejo, tem pesos respectivos de 60% e de 30% no total do IGP-M, lembrou.

No caso da inflação atacadista, a inflação foi pressionada por acelerações de preços em minério de ferro (de 5,24% para 6,17%) e em ovos (de 4,07% para 10,89%). Enquanto o minério passa por flutuações de preço, no momento, a inflação dos ovos tem aumentado devido ao atual período de quaresma no país – que antecede à Pascoa – , quando o brasileiro reduz consumo de carne, e opta mais por esse produto como opção de proteína.

Já a inflação do varejo foi alavancada por gasolina mais cara, cuja variação de preço saiu de queda de 1,08% para elevação de 4,83% da segunda prévia de fevereiro para igual medição em março. O especialista lembrou que foi autorizado retorno de cobrança de alíquota de impostos sobre o combustível, como ICMS, que eleva preço final.

Braz disse não acreditar em disparada no IGP-M completo do mês, mesmo com as taxas mais elevadas de inflação em atacado e em varejo. Para ele, o indicador de março deve finalizar março com taxa positiva, mas próxima de zero, no fechamento do índice a ser divulgado no dia 30 de março.

No entanto, ele reiterou que boa perspectiva da inflação apurada pelo IGP-M não deve ser usada como possível justificativa para corte de juros essa semana. Braz comentou que, mesmo dentro do IGP-M, alguns serviços ainda mostram persistência inflacionária. É o caso, por exemplo, de aluguel residencial, cuja taxa acelerou de 0,07% para 2,33% da segunda prévia de fevereiro para igual prévia em março.

Outro ponto levantado por ele é o atual cenário de crédito internacional. Juntamente com o novo arcabouço fiscal, esse é um tema do qual se tem pouca visibilidade, no momento. Não se sabe, hoje, se a crise atual de crédito, que conduziu à quebra de bancos no mundo, pode levar a esforço internacional em maior oferta de crédito nos próximos meses – o que, em tese, poderia ajudar o BC brasileiro a pender mais para corte da Selic, notou.

“Creio que há mais chance de revisão dos juros [Selic] no segundo semestre, quando se poderá medir melhor crise bancária e mercado de crédito”, ponderou.

Fonte: Valor